segunda-feira, 12 de novembro de 2007

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Há pouco mais de um mês eu tenho trabalhado num hospital público. Entre a minha sala e o departamento de Recursos Humanos fica a UTI, e logo no corredor fica uma sala de espera improvisada. A partir do meio-dia, começa o atendimento para a visita das 15h. Por volta de 14h a recepção já está abarrotada e as cadeiras enfileiradas no corredor já estão tomadas. Desde que eu comecei a trabalhar, é sempre a mesma rotina. E desde o meu primeiro dia, sempre há uma mulher na fila que me intriga. Ela deve ter não mais que 28 anos. Usa sempre uma calça jeans clara, camiseta branca discreta e os cabelos escuros estão sempre muito bem penteados. Senta-se sempre de pernas juntas (sem cruzar), com as mãos entrelaçadas sobre a coxa. Na mão esquerda um lenço de papel amassado, e um olhar distante. Distante, mas não triste. Vazio. Um olhar de aceitação e resignação que ao mesmo tempo que comove, assusta.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

that's when I need my father's eyes

Eu não gosto de contar histórias pessoais aqui, mas...
Meu pai morreu quando eu tinha 9 anos 10 meses e 20 dias, num 29 de dezembro cinzento (ao menos na minha lembrança). Apesar de ter convivido pouco tempo com ele, ainda me lembro de muitas das coisas que ele me ensinou: não andar descalça no chão frio; não brincar no meio de flores cujo talo tenha espinho; sorrir sempre para as pessoas mal humoradas; ser gentil; dizer obrigada, por favor, com licença; não comer e mergulhar logo depois; escovar os dentes antes de dormir; ler gibi é bom; ler de tudo é importante; comer de tudo é saudável; e outras coisas que estão dentro das gavetas aqui dentro de mim. Ainda assim, é inevitável sentir falta dele, de seus conselhos, suas broncas, sua mão estendida. O que fazer quando não se consegue ler as placas? O que fazer quando se está atrasada? O que fazer pra ser feliz?

domingo, 4 de novembro de 2007

the same old me

Por esses dias eu tenho ouvido muito sobre Kurt Cobain. Não sei se há alguma razão específica, porque até onde sei, as datas são: 05-08/abril (aniversário de morte), e 20/fevereiro (que seria o aniversário de vida). Enfim... ver e ouvir falar tanto assim de Kurt Cobain remete (e muito), a minha (pré) adolescência. Nos meus 11/12/13 anos eu era tão introvertida, tão cheia de complexos, que só Kurt Cobain salvava. Não pensava em me matar nem coisa parecida, que fique bem claro, mas costumava passar horas trancada no meu quarto, olhando os posteres e pensando por que diabos um cara tão lindo, tão talentoso, e com uma filha fofa e tão novinha teria se matado. Pois é. Não vou contar minhas teorias toscas, até porque eu tinha 12 anos na época, é bom lembrar. Mas o que dá pra notar é que nada mudou! A diferença é que hoje existe a internet, e milhares de documentários a respeito (e muitos ainda continuam pipocando). Ainda existem adolescentes introvertidos, complexados se identificando com Cobain, e sempre vão existir. É estranho isso. Vejo vários mini-eus por aí. E até hoje ainda mora uma Cobain-maníaca aqui, em algum lugar. Não fico mais horas trancafiada no quarto ouvindo Nirvana, não tenho mais os posteres pendurados na parede e na porta, meu caderno não tem mais uma foto do Kurt na capa, e nas ultimas folhas não tem mais um milhão de desenhos do logo do Nirvana, ou da capa de algum cd. Mas ainda hoje, quando escuto ou vejo algo relacionado a ele, fico arrepiada. Me interesso. Até uns dois anos atrás, eu evitava um pouco ouvir Nirvana. Minha pré-adolescência foi um período MUITO doloroso da minha vida. Tão doloroso que eu prefiria esquecer. - Aí você me pergunta: "Mas qual (pré) adolescência é fácil?" Nenhuma. Mas te garanto que a minha foi pior que a tua. - Enfim, com os tombos da vida, a gente aprende que tombo tem sempre. Dor é a qualquer hora, a qualquer momento, e a gente tem que aprender a fracassar, a cair, e continuar sorrir. "Make them wonder why you're still smiling", eu vi num filme do Cameron Crowe, e achei o máximo. Talvez tenha faltado esse toque pro Kurt, hein?! Fica aí a dica.


* estas fotos eram alguns dos posteres que enfeitavam minha parede, há uns 15 anos atrás