Saindo do trabalho, depois de um dia pra lá de cansativo, olho no relógio e concluo que é inútil ao menos tentar ir à faculdade. Já havia perdido a carona, e ainda precisaria passar em casa pra pegar as seis peças da campanha do agasalho. Hoje era o dia extra e ainda assim eu consegui esquecer. Pego o terminal central, uma senhora com um Ipod absurdamente alto. Desço na rodoviária, não estava no pique de ouvir música - quando fico gripada, fico com dor de cabeça e o fato de ter um foninho de ouvido grudado na orelha só piora a situação. Lá longe escuto sons ... tem que ver se ele passa perto da Jussara... e se chegar lá e ele me disser que está com ela... tenho certeza que era ele... quando eu digo que a Keila não presta... eu queria do rosa, mas a moça falou que só chega mês que vem, se chegar... mais de 20 reais não pago nem por decreto... Depois de uns bons (e longos) vinte e cinco minutos de espera meu ônibus chega, enquanto ouço Planta e Raiz, direto de um celular de um adolescente. Nesse ponto eu sou bem Nelson Rodrigues: "Jovens, envelheçam!!!" Enfim, passados os cinco minutos de café do motorista, e pronto, já estou dentro do último onibus da noite: Bosque-Ouro Fino here we go. Mais quarenta minutos de sacode, chego a dois quarteirões de casa, com chuva, cansada e com fome, entro em casa, meu gato vem até o portão me saudar. Entro, como um caldo verde deliciosamente preparado por mamãe, deito penso na vida, risco mais um dia do calendário, e sigo, alegre, contente e viva, um dia a mais, um dia a menos. Living the dream.

 John Coltrane - Central Park West